O termo “salvei” poderá parecer despropositado na aplicação do mesmo, e certamente seria mais sensato a palavra recuperei, mas também é óbvio, que se eu não estivesse ali, naquele momento e não reparasse ou simplesmente pensa-se que aquela coisa já estava obsoleta e não tivesse sensibilidade para fazer o que fiz, pois logo a seguir o cabeçote era apanhado pelos corpulentos maxilares hidráulicos, e colocado no camião para derreter nos alto fornos
Uma das minhas manias, acontece com intervalos, às vezes longínquos, passar por armazéns de sucata e dar uma ligeira vista de olhos pelos montões de sucata com o intuito de encontrar algo que eu sinta curiosidade em obter, claro que a minha procura cinge-se a uma olhadela superficial e feita quando os camiões não estão a carregar a sucata para a levar para os Alto fornos da Siderurgia Nacional, por vezes costumo trazer algumas placas de electrónica industrial, das quais algumas reparo a avaria, outras dessoldo as peças que me poderão interessar, faz parte do meu hobby. Foi num monte desta sucata que estava desnudado, maltratado quase irreconhecível, um CABEÇOTE do Amplificador FENDER valvulado AB763 BandMaster, estes amplificadores foram construídos pela Fender entre 1963 e 1967, era top naquela altura, eram as pretty girls dos famosos guitarristas da época. Ao observá-lo, pensei para comigo, está completamente liquidado, era fios dessoldados com peças penduradas válvulas partidas deveria ter apanhado água da maneira como aparecia vestígio de ferrugem, eu pensei duas vezes se valeria a pena carregar aquele corpo morto pesadíssimo, mas achei, que valeria a pena fazer um diagnóstico aos transformadores, que são os pulmões desta máquina. Investiguei na Net e não faltou documentação, isso já foi um alívio, arregacei as mangas, limpei, passei lixa desaparafusei peças para dar melhor acabamento, a resistência de continuidades dos transformadores, parecia estar correta, arranjei um transformador com várias entradas que tinha de aparelhos mais antigos, revesti-o com chapo de forma a a ficar parecido com os outros adaptei para a alimentação 220v 110v , este aparelho trabalha com a tensão Americana de 110V (127) no meu stock com cerca de 50 anos, em que os rádios e televisores trabalhavam com válvulas, encontrei duas RCA de saída, no meio de outras válvulas, que eu considerava obsoletas porque a técnica alterou-se em pouco tempo de forma quase radical, para o mundo digital, embora com metade da potência mas com óptima fidelidade, estas 6V6, (as 6V 6 foram utilizadas no amplificador de guitarra, Fender Tremolux em 1955), este amplificador utiliza 3-12AX7, 1-12AT7 e 2- 6L6GC, eram compatíveis e deram para experimentar, no entanto a minha dúvida continuava a ser os transformadores, de saída e alimentação de origem que são as peças mais importantes, se tivessem espiras em curto ou ruidosos, o cabeçote ia mesmo para a sepultura. Depois de tomar todos os cuidados para não haver um estoiro indesejável, com algum receio liguei, e num velho altifalante improvisado, saiu um som animador, depois de accionar os potenciómetros havia dois que arranhavam mas nem foi preciso trocá-los, com o líquido mágico ficou bom, pelo que julguei perceber o cabeçote original, era separado da caixa de som, mas eu entendi que seria mais comodo colocá-lo na mesma caixa de igual modo como os amplificadores, fabricados posteriormente, pesquizei qual seria o ano exacto mas não fiquei com a certeza certamente deveria ser fabricado 1965, porque antes nasceram os 6G7 e 6G7-A (1960) depois o AA/763 eAB/763 este Blacface BandMaster de 1963 a 1967 embora os circuitos sejam quase idênticos a robustez dos transformadores e alguns ajustamentos aprimoraram, depois em lugar de válvula rectificadora, a rectificação é feita por díodos. Em 1965 Leo Fender adoeceu e vendeu a Fender à CBS, que embora continuasse a fabricar o Bandmaster entrou com Silverface BandMaster Reverb, e mais potencia, o meu tem vibrato mas não tem reberv: mas segundo opiniões de fórum, estas alterações prejudicaram um pouco o som em relação BlacKface ( eu não estou qualificado para dar opiniões) O combo ou caixa foi feito dentro do estilo utilizado nos equipamentos posteriores, e coloquei um altifalante de 12”” que tirei de uma coluna, e espero troca-lo por um de menos potencia e certamente mais leve do que este, não consegui, a Tela ortofónica, com a textura idêntica à original, a mais parecida que encontrei, foi num site no Brasil, mas longe de ser igual, depois desfiz uma caixa de fibra de madeira tipo verga, que colei em partes e assim continua, mas na máxima potência, e um baixo ligado com o volume máximo aquilo quase se arranca, todas as peças do cabeçote, são de origem excepto as válvulas e o suporte do fusível, não tenho necessidade de mudar, aliás mudei 3 resistências que estavam danificadas, mandei vir do Canadá todas as resistências e condensadores, aliás em Portugal não consegui encontrar, devido à alta tenção dos mesmos, tenho-os á mão, para quando necessitar de fazer uma intervenção, um amigo arranjou-me tela ortofónica cinza da Fender, completamente diferente da textura da época, tentarei encontrar um altifalante como os utilizados nos antigos amplificadores, o que não será muito viável, de qualquer modo, vou usando o amplificador com boa potência e um som agradável, mandei vir duas válvulas de saída 6G7 pelo Ebay, porque os chineses e japoneses começaram a fabricar válvulas atendendo à procura de amplificadores valvulados utilizados em som atendendo à pureza do timbre mais puro em especial ligado às violas eléctricas, montei um aparelho para acertar a fase das, válvulas de saída segue em baixo algumas fotos do antes e do depois. A caixa foi fácil de realizar foi almofadado revestida a napa preta. Com isto o velho cabeçote Fender porta-se bem, mostrando a sua gratidão, por lhe ter salvo a vida e não ter que fazer parte de algum chassi de carro, se tivesse ido para derreter.