Carro de bois – Cardielos - usos e costumes
Carro de Bois. Precisamente o tema que quero abordar com mais objectividade, no que se refere, aos usos e costumes antigos de Cardielos, eu senti durante alguns anos a vivência com estas ferramentas, que graças ao progresso, foram postos de lado em várias regiões de Portugal e de outros países, mas que durante centenas de anos, tiveram uma importância primordial para a sobrevivência e progresso económico das civilizações, é óbvio que ao longo dos séculos este instrumento de trabalho foi-se aperfeiçoando até chegar ao seu término, altura em que foram substituído pelas máquinas poluentes, tractores e moto cultivadoras.
Foi o Sr.João Marques o primeiro a possuir uma moto cultivadora, embora tivesse morada na Freguesia vizinha, a maior parte das suas terras estavam nesta Freguesia, baptizou a máquina com o nome de Chivinha, a partir daí, todas as moto cultivadoras que vieram posteriormente, para Cardielos, começaram a ser conhecidas por este nome, Em 1974/1975, esta Chivinha , engalanada, com ramos e flores, prestou-se nas campanhas eleitorais locais, mas o meu propósito é falar dos velhos carros de bois, que embora em algumas regiões, ainda estejam operacionais, para o serviço laboral, nesta região vão apodrecendo abandonados nos cantos dos cobertos, outros, em pedestais nos jardins, embalsamados, em óleo queimado, ou qualquer outra velatura, contrariando a força da erosão furtiva a tempo nu, vão aguentando uniformizados, à custa de implantes e manutenção vigiada, até sucumbir completamente, perante as persistentes intempéries ao longo dos anos. Para aqueles que, não tiveram o privilégio de conduzir, esta velha máquina de madeira, puxada por uma junta de bois bem domesticados. Em locais de difícil acesso, ou cargas mais pesadas, metia-se a cambão. uma ou mais juntas de bois, também existem os mesmos carros puxados por vacas. Os carros de bois, foram introduzidos no Minho quando da invasão dos romanos, podemos velos em filmes antigos, claro que eram muito mais grotescos, ao longo do tempo foram-se aperfeiçoando e ajustados ao método de trabalho e às zonas geográficas, onde são inseridos. No Minho utilizava-se a madeira de pinho bravo e pinho manso, em Trás-os-Montes são submetidos a maior esforço, são feitos com madeiras mais pesadas como o Carvalho, freixo, creio que o eixo é sempre feito em madeira de sobreiro, pelo menos nesta zona. Lembro-me de haver pessoas particulares que faziam transportes para outras pessoas a troco de outros trabalhos, Mas havia carreteiros profissionais, que faziam toda a qualidade de fretes, para isso tinham animais corpulentos bem tratados, sobretudo muito bem domesticados, para andarem ante-postos, por vezes o carreteiro dava as ordens aos animais, para parar ou para andar, de cima do carro. Recordo-me, de ir com o meu Pai para o monte às
quatro da manhã, as propriedades rústicas, eram distantes, tomávamos um gole de cevada e avançávamos, eu ia meio engaranhado, enrolado num casaco de adulto em cima do carro. As árvores eram abatidas com o machado, e serradas em toros com o serrão, eu apenas tenteava equilibrar a lâmina do serrão para se manter direccionada, pegando com ambas as mãos nas duas hastes horizontais, meu Pai é que puxava com toda a força na haste vertical do serrão, quando se andava pela estrada, tinha que se untar a cantadeira, com banha ou sabão para o carro não fazer aquela cantadeira, característica do ió, ió, ió, a guarda republicana não perdoava a multa por poluição sonora, mas quando chegava ao caminha já fora da estrada, apertava os cocãos , o carro fazia uma grande chiadeira dando a entender que o carro ia bem carregado, truques da época. Ao carro pertenciam também peças amovíveis, que eram as caniças, Tínhamos, umas feitas de tábuas compostas de quatro taipais, dois laterais mais compridos e dois laterais mais curtos à frente que dobravam e ficavam em triangulo, atrás era encaixada um pequeno taipal
numa corrediça e assim ficava fechado em todo o perímetro, pronto a levar estrume, erva, etc, tinham uns arames que enfiavam nos fueiros. Haviam outras caniças feitas numa só peça de vime recordo-me, de meu Pai as fazer da seguinte forma? Fazia o desenho no chão com a configuração das chedas , espetava os vimes na terra mais grossos e mais compridos com pequenos intervalos , entrançava vimes horizontalmente intercalando-os nos vimes verticais, quando chegava à medida exigida, fazia o acabamento com os vimes sobrantes verticais, sendo a parte da frente mais alta do que a de trás, depois era só cortar os vimes que tinham sido espetados na terra. Quando o meu Pai fazia este trabalho, aproveitava sempre para lhe pedir, para me fazer um caniço, para apanhar melros, era um dispositivo feito de vime com configuração triangular, dentro levava um pau bifurcado em V, em outro pau afiado preso por um cordel, ao ser tocado quando iam colher os grãos de milho, o caniço fechava-se e o pássaro ficava lá dentro, era uma armadilha. Tinha talvez 13 anos, comecei a aprender e trabalhei no arranjo de carros de bois com O Tio Veloso, ferramenta às costas , socas nos pés lá ia-mos para casa dos lavradores da freguesia vizinha, Nogueira era a área dos clientes dele. Socas, soquetas, Androlas ou sulipas, eram pedaços de madeira recortados na configuração do pé, com uma tira de couro de 2 cm a abraçar os dedos , lembro-me de ver pela estrada fora grupos e grupos de operários , que iam trabalhar para Viana pisando oito Km
a estrada de alcatrão, o barulho que aquelas soquetes juntas faziam, era um barulho cadenciado, que a malta se esmerava em fazer marcação, quando alguém de fora ou mesmos entre colegas se zangavam , a sulipa saia como tiro de bala à cabeça do adversário. O principal construtor de Carros de bois de Cardielos, era o Sr. Manuel Parente também conhecido Por Tio Manuel Ambrósio, Era meu vizinho Pai de onze filhos sendo cinco rapazes todos carpinteiros, que o ajudavam na sua faina artesanal, Era um Senhor, baixo e forte, com um espesso bigode preto, muito determinado, sempre na linha da frente nas organizações da festa do Lugar, O Sr. Manuel Parente ao deambular as socas, a bater nos calcanhares, fazia um barulho diferente das outras, talvez porque se esmerava em escolher a madeira, tinham mais leveza e mais arte as suas socas, tinham melhor som. Perco-me sempre com estes pormenores que me vem à lembrança dos costumes e usos antigos, mas também não irei perder tempo
a descrever, as imensas utilizações do carro de bois pois faziam o que fazem os tractores, no que diz respeito ao transporte, Em Cardielos pelo menos nos meus tempos nunca existiu, cavalos ou burros foram sempre os animais bovinos que acompanhavam o lavrador nos trabalhos do campo.
O carro de bois, é composto pelo cabeçalho, que tem 4oo6mm de comprimento, com várias espessuras, para se tornar mais forte nos pontos de ligação e menor espessura noutros para se tornar mais leve, tem 4 furos, o primeiro, para a chavelha do tomoeiro, o segundo para o descanço do carro ou focão, o terceiro para colocar o chavelhão, o quarto furo é na traseira para segurar a porta da caniça, no cabeçalho engatam duas chedas, duas peças com ângulos curvos à frente, as chedas e o cabeçalho ligam-se à frente com respiga apertada, a partir daí com travessas, também as travessas entram de respiga nas chedas e no cabeçalho , ficando mais baixas o desconto das tábuas que vão forrar a base ou mesa do carro. As chedas levam os furos para os fueiros, e quatro furos para os cocões. Cocão é uma peça que abraça lateralmente o eixo mantemdo-o no lugar certo, são peças amovíveis presas pela parte de cima com palmetas, feitas de uma maneira dura, em geral, em madeira de oliveira. Em cada lado por baixo das chedas, que abrangem um pouco mais à frente do rodado acompanhado as chedas até à parte traseira , estão os “Chumaços ou chadeiro” reforçam o carro, possui uma cavidade apropriada, onde vai encaixar uma parte também devastada do eixo a que se chama cantadeira, estas duas peças com o uso, à força do atrito, vão-se moldando criando umas estrias alienatórias, que tem influência no cantar do carro, o eixo de sobreiro é oitavado, de forma a que em descidas mais inclinadas, é adaptado um travão, para ajudar os animais de forma a que o carro não ganhe velocidade, um pedaço de uma árvore com cerca de 100mm de espessura é colocado na parte traseira das rodas, preso com arame às chedas, uma corrente de ferro é atada ao tronco e vai passar por cima do eixo cuja ponta volta para trás, onde duas pessoas puxam as correntes fazendo atrito no eixo contrariando a velocidade precipitada do carro. Bois ao carro; Este trabalho feito por uma só pessoa, requer habilidade, conivência dos animais, e calma, para estes não se assustarem, o carro deve estar calçado, para não recuar, durante esta operação, levanta-se o carro, mete-se o chavelhão no buraco da chavelha , o gado depois de cangado, com canga ou cangalho, vai-se meter os bois ao carro, os animais vão recuando até encaixar o cabeçalho no tomoeiro, depois é só tirar o chavelhão e meter a chavelha do tomoeiro de maneira que as peças de couro (tomoeiro),fiquem para trás deste, o chavelhão é colocado no terceiro buraco pela parte de cima. As Rodas são compostas por três peças de madeira , geralmente de carvalho, a peça do meio chama-se mium ou meão as duas do lado chamam-se cambas, o rodado é composto de 4 peças de ferro curvadas com um centímetro de espessura, pregados com pregos apropriados feitos no ferreiro, o meão e as cambas são ligadas com respigas e umas barras de ferro curvadas, que se chamam meias luas, são embutidas na madeira, ajudando na segurança da ligação do mium e as duas cambas, tanto o rodado como as meias luas são pregados com pregos próprios forjados . Descrevi os velhos carros de Bois, Existem outros com rodados em ferro sem madeira,outros com rodados de uma só peça metidos a fogo na madeira , chumaços em ferro etc .
Tal como disse no princípio, este post refere-se a usos e costume de Cardielos, podendo haver distorção da escrita em relação pronúncia, como diz o ditado cada terra tem seu uso, cada roca com seu fuso
Cabeçalho, Chedas, Travessas e mesa , furações
Ligação das Chedas ao Cabeçalho
Parte dos rodados e meia-lua
Estrias torneadas pelo desgaste do atrito do chumaço e cantadeira
Pormenor do chumaço ou chadeiro
Cerca de dois mil e quinhentos atletas, visitaram Cardielos
Mais uma vez , tive o privilégio, de assistir à Meia Maratona MANUELA MACHADO, no dia 30 de Janeiro a meio da manhã, somando a 13”meia maratona. O evento deste ano teve uma maior afluência de atletas em relação aos anos anteriores, em que tivemos cerca de 800 hermanos da nossa vizinha Espanha. O sol, expandindo os seus raios de luz, abraçou da melhor forma os atletas, e todas as pessoas, que na berma da estrada aplaudiam com palavras de incitamento os atletas que começavam a ficar exaustos. Fizeram-se à estrada, Super Veteranos com mais de 70 anos. Oxalá, continuem muitos anos a fazerem este longo percurso.
O primeiro lugar foi para um Jovem do Quénia Evans Taieget, com 1, 03 .21horas
O segundo lugar foi para a Rússia - Oleg Kulkov, 1, 03.24horas.
O terceiro Lugar foi para o Português Sérgio Silva a 10 segundos do 2’ classificado
O primeiro lugar feminino foi para Marisa Barros do Sport Lisboa e Bemfica. O segundo lugar coube a uma atleta da Rússia.
Bati umas fotos, mas dado o aglomerado de atletas juntos, não foi possível reconhecer mais caras conhecidas, fica para a próxima.Meia
Inseparável grupo da frente
Os Ciclones avançam
O meu amigo e vizinho Ernesto posa para a fotografia, no passeio matinal