Chegados ao fim de ano, mais uma vez dá-mos cumprimento à nossa vontade, trepando ao monte de S. Silvestre, o dia da festa, impreterivelmente é sempre no último dia do ano, creio que nunca faltei neste dia, pois é uma das festas que mantém algumas raízes antigas, nomeadamente a bênção dos animais e dos campos, no alto da varanda de blocos de granito feita pelos nossos antepassados, acontece, que este ano a festa teve para mim um sabor especial, pelo facto de a véspera dia 30 de Dezembro coincidir num domingo, eu também não fiquei em casa, é de véspera que as pessoas há longos anos se reúnem para confraternizar, num jantar com inscrições antecipadas, em que se juntam todos os amigos daquele lugar secular, ali, o dia começa de manhã, como em qualquer parte do globo, mas vou demonstrar que aqui é diferente, vejamos: Ás 9 horas depois da entrada dos Zés Pereiras, é a hora da “rincha”carne de vaca bem seleccionada com algum branco para lhe dar melhor sabor, juntamente com orelheira, chouriça “sanguinhas”, e chouriços de carne dos melhores fumeiros da aldeia, confesso que ao ver aquele aparato fumegante, em cima da mesa, o estômago meio adormecido quase sente umas convulsões negativas, mas depois de começar já pedia vis, o verdasco, era cá uma pomada, caía mesmo bem em cima da rincha. Depois de um ligeiro passeio até ao picoto do monte, para ajudar a digerir o grande pequeno-almoço. Às treze horas sentamo-nos à mesa, para saborearmos uma apetitosa pescada cozida com grelos e batata, depois do almoço seguiu-se um campeonato de malha e depois de sueca, em que não faltaram os craques do costume, às dezasseis horas, houve missa no Santuário, pelos amigos falecidos, no fim da missa, fomos comer uma adocicada sopa de cavalo cansado, só espero que o Sr. colesterol não saiba de todos estes abusos feitos à sua pessoa, e não me venha a tramar, mas, ao ver meninos de noventa e tal anos a abusar repetidamente, nem sei que pensar? Há noite, porque estava um pouco frio o comodismo venceu a vontade subir ao monte para ver o grupo musical, optamos por ficar no sofá junto ao fogão. O dia trinta e um, último dia do ano, o dia estava óptimo, o sol caía em cheio no espaldar da montanha e os seus raios entravam agressivos nos nossos olhos, fazendo-nos notar que o dia estava diferente do anterior, era bom sentir uma réstia de ar fresco, ou mais propriamente, uma brisa adocicada, temporada pelo sol que vinha do céu. Houve cerimónias e sermão alusivo a S. Silvestre, procissão, e a célebre bênção aos campos e animais, havia muitos cavalos, alguns de escola e muitos garranos, a seguir fomos petiscar a orelheira e mais uns condimentos apropriados com a família, como o trânsito começava a fluir, resolvemos vir embora, depois de bebermos uma tigela de vinho quente com açúcar, como é de tradição, aliás é de praxe todas as pessoas darem praticamente as mesmas voltas, porque estes procedimentos rotineiros, suponho que seja hereditário para as pessoas da região. Resta-me desejar a todos os meus amigos, boas entradas para o novo ano que se aproxima.